Uma espécie de ponto de situação
Sou uma pessoa incrivelmente nostálgica.
É, precisamente, essa nostalgia que me puxa pelas palavras e, consequentemente, pela escrita. Atrevo-me a dizer que, se a magia de momentos idos não me afectasse tanto, provavelmente as páginas permaneceriam em branco.
O passado guia-me a mão.
Por isso, sinto profundamente os fins e os recomeços.
Há um ano atrás não podia imaginar que aqui estaria, agora. Na verdade, nem sei bom o que aqui significa. A maternidade catapultou-me para o desconhecido. Não conheço a estrada, nem os cheiros, nem os sons. Habituada a conseguir prever ou, pelo menos, esboçar o dia de amanhã, aprendi que pouco da vida está, plenamente, sob o nosso controlo. Inicialmente, senti medo. Aos poucos, aceitei. Com o tempo, ficarei mais tranquila.
Reconheço, também, a beleza do desconhecido. Só nos encontramos, verdadeiramente, quando nos perdemos.
O último ano foi o ano de ver crescer uma vida imensa. Imensa de alegria, de energia e de garra. A minha filha preencheu-me os dias. Pude cuidar dela todos os segundos, amparar-lhe os primeiros passos, ensaiar-lhe as palavras. Sim, um verdadeiro privilégio. Cada revés vem acompanhado de inúmeras vantagens, muitas vezes encobertas. Isso, levo como ensinamento.
No meio da turbulência, consegui espaço e tempo para me reinventar. Me experimentar de outras formas. A maternidade consome-nos. Pedaços de nós, que nos identificam, ficam irremediavelmente pendurados no cabide à espera de melhores tempos, mais disponibilidade, outra energia. Mas novas coisas surgem, capacidades escondidas, sonhos novos.
Valha-nos a capacidade de sonhar.
Que 2018 nos dê, a todos, sonhos mais altos.
Mesmo às mães que pouco dormem.