O meu pai
Os fins-de-semana começavam lentos, nessa altura. Sorrateiramente, eu e a minha irmã mais velha, acabavamos por invadir a cama dos meus pais. Primeiro, saía a minha mãe e, depois o meu pai, vencidos pelo nosso arrastão. Ligavamos a televisão, um quadrado pequenino escondido dentro do roupeiro das toalhas, e ficavamos na preguiça a seguir os desenhos animados. O pequeno-almoço chegava-nos, às vezes, à cama. Comiamos, sem pressas. Mais tarde, de televisão já desligada e ainda de portadas fechadas, eu e a minha irmã por lá ficavamos a brincar.
Subitamente, a luz que se apaga! Um silêncio perturbador apenas cortado pelos nossos gritinhos nervosos. Gritos expectantes de quem já conhece a brincadeira de cor e sabe o seu desfecho. Calamo-nos e abraçamo-nos com medo divertido. Um crepitar ao fundo do quarto, uma espécie de brisa ao fundo da cama. Uma sombra aqui ao lado, será?
-"MÃÃÃEEE, O PAI VAI FAZER...".
-...UM ATAQUE DE CÓCEGAS! - e lá salta o meu pai de surpresa!
Rimos, rimos, rimos.
A minha mãe entra também, para nos salvar daquele ataque-brincadeira.
O meu pai foi um pai-brincadeiras. Sempre atento às suas meninas. Protegendo-nos, mas dando-nos asas. Cultivando o nosso gosto por livros e histórias. Um fiel impulsionador da minha escrita. Comedidamente exigente, tornou-nos fortes e lutadoras. Visionárias e sem medo do mundo. Com vontade de ir pelo mundo.
Pai teimoso. Humilde. Impulsivo. Humano. Estudante eterno e coleccionador de livros. O melhor conselheiro de desgostos amorosos que, a pedido da mãe, lá subia os degraus até aos nossos quartos-torre e nos consolava as lágrimas fazendo-nos ver, sempre, que tinhamos valor.
Este meu pai, agora avô-brincadeiras, faz hoje anos!
Estas palavras-homenagem são tuas! Parabéns, PAI!
- AO ATAQUE MEUS PIRATAS!!