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The Middle Way

The Middle Way

01 de Novembro, 2017

Know your enemies #2: MRSA

JR

...também conhecido por Staphylococcus aureus meticilino-resistente.

 

Human_neutrophil_ingesting_MRSA.jpg

 

Basicamente, é a versão Hulk dos Staphylococcus aureus, uma vez que é resistente a muitos dos antibióticos utilizados no tratamento destas infecções. É essa a razão do alarmismo em relação a este bicho: maior dificuldade em matá-lo.

 

No mundo da Fibrose Quística (FQ), o MRSA tem sido cada vez mais estudado, pela sua aparente relação com um declínio acelerado da função pulmonar. 

 

Sendo uma bactéria associada ao uso elevado de antibióticos, a sua principal "residência" é nos hospitais ou noutras instituições relacionadas com cuidados de saúde (lares, centros de cuidados continuados, etc). Qualquer doente susceptível (como é o caso da FQ) apresenta um maior risco de infecção por este bactéria. Os doentes com FQ têm contacto frequente com os serviços de saúde (consultas de rotina, colheita de secreções, avaliação respiratória, fisioterapia...). Cada visita a estes locais é um risco, pelo que os cuidados devem ser redobrados.

 

Infelizmente, um número cada vez maior de casos são adquiridos na comunidade, ou seja, aparecem em pessoas que não tiveram um contacto recente com os hospitais. Estes casos são difíceis de prever e de controlar. 

 

Dentro dos hospitais, os locais com maior isolamento de MRSA são: cuidados intensivos, enfermarias cirúrgicas e cuidados geriátricos/medicina interna. Os pavilhões de consulta de FQ também são um risco, pela maior concentração de doentes que possam estar colonizados/infectados.

 

O MRSA não apresenta risco, apenas, para a função pulmonar. Pode causar infecção grave associada ao uso de vários dispositivos: botões de gastrostomia para alimentação, cateteres venosos centrais para antibioterapia, etc.

 

No nosso caso, logo após o diagnóstico, foi feito um isolamento de MRSA nas culturas da bebé. Iniciou, imediatamente, antibioterapia oral prescrita pela equipa médica e passou a ser observada em consulta num dia específico (para impedir que ela contaminasse outras crianças). Uma vez que nós, pais, somos médicos, decidimos fazer uma pesquisa do bicharoco em nós mesmos - achamos que seríamos nós a mais provável fonte de contaminação. Não fazia sentido erradicar a bactéria na bebé se, depois, poderíamos infectá-la novamente...

Mas, o nosso resultado veio negativo. Vária vezes. Concluímos então que, em 3 semanas de vida, a bebé teria contraído a bactéria no hospital: ou no pavilhão das consultas ou ainda na maternidade.

Depois de concluído o primeiro ciclo de antibiótico, infelizmente, o resultado veio positivo outra vez. Não tinhamos tido sucesso. Voltamos a repetir um novo ciclo de antibióticos, desta vez mais prolongado. 

 

Entretanto, em casa, descobri um protocolo de descontaminação para MRSA (da Infection Prevention Society).

Consistia no seguinte:

Enquanto estivesse a tomar os antibióticos, todos os dias tinha de:

1- mudar a roupa do berço e lavá-la a 60ºC;

2- mudar roupas e pijamas e lavá-los a 60ºC;

3- mudar a toalha de banho e lavá-la a 60ºC;

4- desinfectar brinquedos, talheres e tudo que ela pudesse levar à boca.

 

Fazia sentido. Desta forma, à medida que o antibiótico ia diminuindo o número de bactérias no seu organismo, nós iamos também eliminando todas as bactérias que, eventualmente, ela fosse deixando pelo caminho. Evitávamos, desta forma, a reinfecção ao máximo. Coincidência, ou não, não voltamos a ter nenhum isolamento de MRSA até ao momento.

 

No Hospital, temos alguns cuidados. Quando ela era pequenina e ainda não andava, contactava o mínimo possível com as superfícies hospitalares. Agora, isso é impossível de controlar. Ela corre por todo o lado!

 

As nossas regras familiares:

- espera, sempre que o tempo o permita, no exterior do edifício das consultas;

- brinca à vontade, mas desinfectamos as mãos com frequência (ela já adora lavar as mãos!);

- evitamos que leve as mãos à boca (estamos a reforçar o ensino neste aspecto);

- leva os seus próprios brinquedos de casa e não brinca com aqueles que estão disponíveis nos gabinetes de consulta;

- todas as roupas que foram para o hospital, as dela e as nossas, vão para lavar;

- a mamã deixou de ser cirurgiã...

 

Estas são apenas as nossas experiências, enquanto família. Nada disto é infalível e não quer dizer que, no futuro, não nos deparemos novamente com esta e outras bactérias. Na verdade, faz parte do ciclo da doença. Estamos cientes disso.

Acima de tudo, temos de aceitar a impossibilidade de controlar tudo. E a imprevisibilidade da vida. Só assim teremos alguma paz no dia-a-dia.  No fundo, todos tentamos fazer o nosso melhor.

 

 

 

Bibliografia:

Methicillin Resistant Staphylococcus aureus - Report of the UK Cystic Fibrosis Trust Infection Control Working Group

- Conselhos para pessoas não hospitalizadas afectadas por MRSA - Infection Prevention Society

- Risk factors for persistant methicillin-resistant Staphylococcus aureus infection in Cystic Fibrosis - Mark T Jennings et al; Journal of Cystic Fibrosis 2017.

- Managing the care of Children and Adults with Cystic Fibrosis - Royal Brompton & Harefield; Imperial College London.

 

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