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The Middle Way

The Middle Way

29 de Janeiro, 2018

Centro Cultural Hare Krishna - um oásis no meio da cidade

JR

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Já conheço este espaço há alguns anos.

 

Falo-vos deste espaço apenas enquanto restaurante vegetariano. Contudo, o Centro Cultural Hare Krishna promove diversas actividades: meditação, Bhakti-Yoga, entre outras. Promotores, também, do programa "Alimentos para a Vida", doando alimentos vegetarianos à população carente (procuram, inclusivamente, voluntários!).

 

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A entrada, situada na Rua D.Estefânia, nº91 - Lisboa, passa bastante despercebida. O espaço interior emana paz! Nos dias solarengos, o terraço torna-se o lugar ideal para o almoço. Chegando cedo, por volta do meio-dia, ainda são poucos os visitantes esfomeados. O terraço fica quase por nossa conta. As mesas estão distribuídas pelo espaço, ora aproveitando os raios de sol, ora estrategicamente colocadas em sombras refrescantes. Ao sabor do vento, tilintam pequenos espanta-espíritos pendurados nos ramos das árvores. Ao longe, um rasto de música indiana.

 

Chegamos e inspiramos, profundamente. As preocupações devem ser deixadas do lado de fora. O serviço é discreto, delicado e simpático. Existe apenas um menu disponível por dia - não nos é dada opção. Mas, garanto, nunca fiquei desiludida! O menu é sempre vegetariano. Consiste numa sopa aconchegante, um prato bem servido e variado, uma sobremesa sempre deliciosa. A acompanhar, um chá quente, em temperatura e sabor. Os pratos e copo são em inox. O único descartável fornecido é o guardanapo de papel. 

 

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O preço do menú é de 7,50€. Não servem café expresso, mas podem pedir uma cevada no final. Que isto não vos desmotive! Se a cevada não vos agrada, têm imensos cafés nas redondezas onde podem tomar o vosso cafezinho ao sair. 

Um espaço que vale a pena conhecer - e regressar, sempre que precisar de apaziguar a alma.

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26 de Janeiro, 2018

À conversa com: Carlos Henriques, Co-Fundador do Primeiro Restaurante Zero Waste Nórdico

JR

Não sei se sou eu que ando mais atenta mas, ultimamente, parece que noto a comunidade Zero Waste em franca expansão. 

Recentemente, tive a possibilidade de falar com o Carlos, conterrâneo e antigo conhecido, acerca do seu novo projecto: Restaurant Nolla - o primeiro restaurante nórdico totalmente Zero Waste. Senti, de imediato, necessidade de falar com ele e de entender melhor o conceito deste restaurante.

Segundo os dados da National Restaurant Association (EUA), cerca de 30 a 40% dos alimentos utilizados na restauração são desperdiçados. A esse facto, podemos adicionar a quantidade absurda de objectos descartáveis utilizados em cafés e restaurantes (copos, talhares, palhinhas, guardanapos...) que acabam, a maioria, por ser depositados em aterros e, posteriormente, nos oceanos. Sem falar nas embalagens utilizadas e no transporte das mesmas. Escusamos, também, de falar de todos os recursos energéticos a que um restaurante está associado.

Facilmente percebemos que a indústria da restauração tem uma pegada ecológica gigantesca. Sobre isto, não há dúvidas.

 

Na tentativa de repensar esta indústria, Carlos, Albert e Luka juntaram-se na saga de criar um restaurante onde o desperdício é...exacto, Zero!

 

Como? Vamos saber!

 

TMW - Olá Carlos! Em primeiro lugar, fala-nos um bocadinho de vocês e do vosso percurso.

Nós somos os três ex-cozinheiros. Neste novo projecto, acabamos por nos complementar: o Albert está responsável pela cozinha, o Luka pela sala e eu mais pela área de negócios.Vimos todos de ambientes rurais. Os meus pais eram agricultores e fui criado numa aldeia. Na verdade, podes tirar o Carlos da aldeia, mas não podes tirar a aldeia do Carlos. Em termos de formação, tirei o curso de Cozinha na Escola de Hotelaria de Manteigas e, posteriormente, o curso de Gestão Hoteleira na Escola Superior de Turismo e Hotelaria de Seia. Mais tarde, numa tentativa de expandir horizontes, decidi sair de Portugal. Comecei por trabalhar na Inglaterra e, em 2011, cheguei à Finlândia, onde resido de momento. 

 

TMW - E como é que vocês os três se conheceram?

Conhecemo-nos aqui na Finlândia. Eu e o Albert trabalhamos num restaurante com 2 estrelas Michelin, que entretanto já fechou, o Chez Dominique. Depois, fomos trabalhar para o Olo, um restaurante com 1 estrela Michelin, onde conhecemos o Luka. Acabamos por trabalhar juntos pouco tempo, mas mantivemo-nos amigos desde então.

 

TMW - E como é que surgiu a ideia do Restaurant Nolla?

A ideia foi do Albert e o projecto começou a ser desenvolvido por nós os dois, há cerca de 2 anos atrás. Mais tarde, juntou-se o Luka. Achamos que os três nos completamos em termos de funções e formação e o Luka fala finlandês, o que é uma mais valia. Ao longo do nosso percurso profissional fomo-nos deparando com a grande quantidade de desperdício a que os restaurantes estão associados. Existe uma procura incessante por produtos alimentares perfeitos.

 

TMW - E quais foram as principais dificuldades que enfrentaram até agora?

Eu penso que tenham sido as mesmas que qualquer projecto pioneiro. Quando começas a desenvolver um conceito inovador, não vais ter dias fáceis pela frente. Temos de estar preparados para isso: mais derrotas do que vitórias. Mas as coisas acabam por acontecer. O primeiro ano foi um ano mais teórico, de desenvolvimento da ideia. Depois, fizemos dois restaurantes pop-up para testarmos o conceito e vermos se, efectivamente, não produzíamos lixo. Nos últimos 6-8 meses estamos a trabalhar no Nolla praticamente a tempo inteiro.

 

TMW - De que forma é que o vosso restaurante é diferente? Como é que um restaurante consegue ser Zero Waste?

O que nós fizemos foi retirar todos os caixotes de lixo do nosso restaurante e começar a cozinhar! Essa é a melhor forma de nos tornarmos Zero Waste, pois muda a nossa maneira de pensar e de comprar. Criar um restaurante com este conceito, é relativamente fácil. Nós lidamos directamente com os produtores locais (diminuindo a pegada ecológica associada ao transporte) e não utilizamos comida processada, só isto elimina grande parte das embalagens. Todos os agricultores, tanto aqui como em Portugal, estão muito mais disponíveis para entregar os produtos em caixas e levaram as caixas de volta. Temos também um compostor no restaurante para pequenos desperdícios na cozinha ou restos de alimentos do cliente. Por dia, conseguimos transformar 20 kg de resíduos orgânicos em 2 kg de composto! Uma perda de 90% do peso do desperdício! Este composto é depois fornecido como fertilizante aos produtores com quem trabalhamos. Óleos, azeites e vinagres estamos a tentar comprar em bidões, directamente à fábrica. Vinho vamos ter, e vem em garrafas de vidro. O que nós estamos a fazer com essas garrafas é upcycling. As garrafas que utilizámos nos nossos restaurantes pop-up vão ser os nossos copos de água. Isto deve-se a um trabalho directo com designers. Por outro lado, tentamos vender menos vinho que outros restaurantes de fine dining. Nestes restaurantes faz-se, muitas vezes, o wine pairing (acompanhamento dos pratos por vinhos seleccionados). Nós vamos ter o beverage pairing, onde podemos ter um cocktail a acompanhar o prato principal, por exemplo. Isso permite-nos diminuir o número de garrafas compradas e utilizadas e, consequentemente, o lixo. E, claro, não vamos usar objectos descartáveis. Para nós a reciclagem é o worst case scenario. Vai haver coisas que, simplesmente, não vais poder utilizar se quiseres ser Zero Waste, pelo menos até o mercado mudar.

Para já, não temos solução para todos os problemas. Mas o importante, é trabalharmos nesse sentido.

 

TMW - Já conseguiram um espaço definitivo para o restaurante? Quando vai ser a abertura?

Sim, já temos. Vai abrir dia 15 de Fevereiro.

 

TMW - Como vão ser os menus? Quem é que os cria?

O Albert é quem está à frente da cozinha. Mas, os nossos menus vão ser um bocadinho diferentes. Quem escolhe o menu do dia não é o cliente, mas sim o agricultor ou o produtor com quem trabalhamos. Eles é que sabem quais os produtos da época e qual o produto mais fresco. Conforme os produtos que recebemos, podemos pensar o menu a 2-3 dias. Vai sempre variando conforme os produtos da época. O cliente, actualmente, já perdeu a noção de qual o vegetal ou fruta da época. Nós estamos a tentar trazer esse conhecimento para a mesa. As épocas são importantes para evitar o desperdício e para ensinar as pessoas a comer o produto no seu melhor. 

Vamos ter carne e peixe. Conversamos muito, em termos ecológicos, até decidirmos ter carne nos nossos menus. Acreditamos que, neste aspecto, mais importante que ter apenas agricultura orgânica é ter agricultura biodinâmica. A agricultura orgânica inclui animais neste processo. Os animais nas quintas, ajudam na diminuição do desperdício. Muitos alimentos que seriam desperdiçados são utilizados, nestas quintas, como alimento para os animais. Era este o modelo utilizado no tempo dos nossos avós. Nós vamos ter carne orgânica, proveniente apenas destas quintas, mas não prometemos ter sempre! Não vamos buscar a carne a produções intensivas. Quando um produtor tiver um animal em fim de vida, podemos ter carne disponível no nosso menu durante uns tempos mas, depois, podemos estar meses sem carne.

 

TMW - Vocês estão, neste momento, a pedir crowdfunding. O que conseguirem angariar vai ser aplicado em quê?

Essencialmente em marketing e compras de algumas máquinas e aparelhos. Estamos a pedir uma quantia, relativamente, pequena. É mais para nos ajudar a dar o impulso. Mas, o Nolla vai acontecer independentemente do crowdfunding! Também poderá ser utilizado no desenvolvimento de algumas actividades a nível universitário, porque também pretendemos ter uma vertente educativa.

 

TMW - Achas que este é o futuro da restauração?

Eu acho que este é o futuro do mundo! Nós vivemos num modelo que está errado! Um sistema de desperdício não faz sentido, nem do ponto de vista financeiro. Se nos sentarmos numa cadeira e pensarmos dois minutos, rapidamente nos apercebemos que aceitar o despedício, no dia-a-dia, não faz sentido.

 

TMW - Achas que Portugal seria receptivo a restaurantes como o vosso?

Quando comecei a pensar neste projecto, achei que não haveria mercado suficiente em Portugal. Ainda. Acredito que haverá daqui a uns anos.

 

TMW - Já pensaste trazer o Nolla para Portugal?

É um sonho. Mas é um sonho ainda longínquo. Claro que, agora, me tenho de concentrar neste projecto que temos em mãos. Mas, tudo o que nós conseguirmos, em termos de restaurante e conceito, é para partilhar. Se alguém tiver um restaurante e quiser vir aqui ver como nós funcionamos, nós não temos problemas nenhuns em mostrar. Se alguém quiser replicar o conceito em Portugal, não vejo problema. Não vamos estar a proteger a ideia. O nosso intuito é diferente. Somos um restaurante Zero Waste, temos clientes, fazemos lucro. É isto que pretendemos. Ter um restaurante de alta qualidade, excelente em serviço, excelente em comida, que seja Zero Waste e que faça lucro. Se reunirmos estas condicionantes todas, tenho a certeza que as pessoas vão querer copiar.

 

TMW - Qual é o significado de Nolla?

É zero em finlandês! É o restaurante Zero! 

 

Obrigada, Carlos!

 

 

 

 

 

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À data da publicação desta entrevista, a quantia pretendida por crowdfunding foi angariada! Muitos parabéns! E...até um dia destes! Em Helsínquia, claro! 

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22 de Janeiro, 2018

A viagem - uma história #6 e #7

JR

Setembro de 2012

 

 

VI

 

Quero uma casa em Monsanto. Pequena, com poucas divisões, de varanda virada para o pôr-do-sol e tendo, como parede, um pedregulho.

 

É um sítio que transborda paz, em todos os cantos da vila, com pedras enormes, lá no alto, quase a tocarem o céu. E o chilrear dos pássaros, à tardinha, preenche o silêncio. Chegar ao castelo é cansativo, mas totalmente compensador. Quem me deu as indicações precisas do caminho a seguir foi um senhor americano, de cabelo comprido, loiro, e longo bigode farfalhudo: "You just go straight up from here. Follow this road and you´ll find some beautiful, beautiful things". Pelo caminho, encontrei galinhas e um porco numa pocilga, revestida a pedra antiga e atapetada de maçãs podres que ele comia com vontade. Lá no alto, no ponto mais alto, sentimo-nos donos do mundo, como se mais nada estivesse acima de nós. A vista devolve-nos anos de vida, coragem, força, determinação. Por isso mesmo, sublinho, quero uma casa em Monsanto.

Deixei-me ficar no castelo durante um bom bocado. Queria gravar, de qualquer forma, aquela imagem na memória, para poder voltar a ela sempre que quisesse. Agora, apenas à distância de um dia, queria ser capaz de descrever todas as tonalidades que vi, mas já não consigo. No caminho de regresso, encontro uma senhora, vestida de preto e de cabelos brancos, a dormir sentada,  cabeça pendente, num banco de pedra. Silenciosamente, tirei uma fotografia. Voltei-me para seguir caminho, quando ela me chama - "Ah, veja lá! Estou com uma soneira! Venha aqui ver as marafonas, para ver se acordo". "Pois, deixe lá...depois de almoço é mesmo hora para ter sono" - brinquei enquanto avançava para o cestinho cheio de bonecas. "São todas ao mesmo preço. Aquelas pequenas têm um íman para pôr no frigorífico." - explicou - "é a minha filha que as faz". Eram, realmente, engraçadas. Fiquei a saber que as marafonas, estas bonecas de vestidos coloridos e cabeça branca, eram usadas em rituais de fertilidade. "Até já estive no Porto, naquele programa da Praça da Alegria" - gabou-se. Sorri, pedi desculpa por não comprar nenhuma, mas estava sem dinheiro e o multibanco ficava a uns quilómetros de distância.

 

Estou, portanto, nas Beiras. Tudo à minha volta me parece familiar, desde a paisagem rochosa, granítica, ao cheiro dos pinheiros. Aproximo-me da Guarda, o meu próximo repouso. Chego ao fim do dia, faço o check in no Hotel e deito-me a dormitar uma hora antes de sair.

A zona central da Guarda é acolhedora. À volta da Sé espreguiçam-se ruas estreitas pitorescas com cafés e esplanadas. Sento-me numa delas e escrevo um postal de cortiça, que comprei a um senhor, enquanto me refresco com uma cerveja fresquinha. Decido jantar no quarto do hotel, para poupar algum dinheiro. Faço uma salada rápida. Viajar assim, por Portugal, não fica barato e estamos em crise. Aproveito a boleia e encosto-me na cama a ouvir o discurso do nosso Primeiro Ministro, senhor ilustre, que nos diz, calmamente, que estamos todos lixados.

 

 

VII

 

Rectifico. Quero uma casa algures no Vale do Côa. Não apenas uma casa, quero uma quinta com videiras, oliveiras e amendoeiras em flor. Quero produzir vinho, azeite e acordar para a vastidão de flores brancas! 

 

A manhã, na Guarda, começou como todos os outros dias, com o pequeno-almoço  a que já estou habituada. Assim que peguei no carro, apesar de me sentir confiante ao volante, acabei por me enganar e apanhar uma auto-estrada. Mais um desperdício de dinheiro! Assim, quase sem querer, cheguei a Almeida por Trancoso. Almeida, a cidade muralhada mais impressionante de Portugal, com as suas fortificações em forma de Estrela. Contudo, depois de tanto ter calcorreado Portugal, e de ter encontrado recantos tão bonitos, Almeida não me impressionou. Dei a volta à muralha, sentei-me a comer uma pêra e segui caminho.

 

Decidi parar em Castelo Rodrigo. Segundo o mapa, era a paragem seguinte mais lógica. Ao chegar à rotunda que me levaria ao castelo, lá no alto, reparo numa placa que indicava o caminho para um miradouro na Serra da Marofa. Nem mais! "Vamos lá inovar!" - pensei eu. Subi, subi muito, numa estrada ora ladeada por pinheiros, ora por um precipício à direita. Tentei concentrar-me na estrada à minha frente, resistindo à paisagem absolutamente deslumbrante, que adivinhava pelo canto do olho. Ao longo da subida, vão aparecendo pequanas casinhas de pedra que, no seu interior, albergam pinturas cristãs. Chegar ao cume, foi das melhores surpresas desta viagem! Lá no topo, uma estátua de Cristo recebe-nos de braços abertos. Uma espécie de Cristo-Rei em ponto pequeno. Mas ele lá está, abrindo os braços sobre  Castelo Rodrigo, como quem a protege e abençoa.

 

O resto do caminho levou-me, por fim, ao vale do Côa e ao Douro vinhateiro, onde hei-de regressar vezes sem conta. Tinha ideia de chegar a Foz Côa e tentar, a todo o custo, conseguir uma visita guiada às pinturas rupestres. Mas, assim que pus os olhos naquelas montanhas de um verde intenso, ordenado em fileiras de videiras e oliveiras, numa disposição quase milimetricamente pensada, criando padrões de verde no horizonte, não resisti a deambular por ali. 

A pousada da juventude fica mesmo à saíde de Vila Nova de Foz Côa e as suas traseiras dão para os montes. Perguntei, na recepção, pela praia fluvial mais próxima. Queria mergulhar no Douro. Vesti o bikini o mais rápido que consegui e saltei, sorridente, para o carro em direcção a Pocinho. Admito que a praia fluvial não era tão agradável quanto estava à espera, mas o calor das quatro da tarde e o verde azulado da água convenceram-me a dar um mergulho, apesar do musgo que flutuava à superfície. Um pouco mais à minha esquerda, dois amigos estavam sentados a pescar. Pelo que me fui apercebendo, através das palavras pouco animadas que iam trocando,  a pescaria não estava a correr muito bem. A verdade é que, enquanto estive por ali deitada ao sol, para além do zumbido persistente das moscas moles que voavam à minha volta, ouvi várias vezes peixes a mergulhar nas águas.

 

 

To be continued...

 

Acabei o dia em conversas, um tanto ou quanto filosóficas,  com um amigo, ao jeito de antigas conversas cibernáuticas do passado. Adormeci pensando, seriamente, no conceito de felicidade, de paixão, de ponto fraco e defeito. Sonhei com o Douro.

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17 de Janeiro, 2018

Só porque comprei pistachios a granel e tinha uma toranja a estragar-se...

JR

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Foi exactamente isso. 

 

Tinha uns pistachios num frasquinho há imenso tempo e uma toranja a amolecer (demasiadamente) na fruteira. Estávamos em contagem decrescente para o lanche. Foram estes os motivos que me levaram a experimentar fazer umas bolachinhas. Peguei na receita dos biscoitos de alfazema e adaptei aos ingredientes que tinha no momento. Como a bebé estava a ficar com alguns sintomas gripais, decidi aventurar-me num golden milk quentinho.

 

 

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A verdade? Saiu um lanche improvisado, rápido e totalmente aconchegante. Estava na dúvida se a pequenina ia gostar deste leite diferente. ADOROU!  Já andava a pensar em formas de introduzir mais curcuma na dieta dela e, portanto, este leite passou no teste! A repetir.

 

Em 2004 saiu um artigo científico que falava na possibilidade de a curcuma poder corrigir os defeitos da fibrose quística a nível do canal de cloro. Isto, naturalmente, suscitou uma onda de esperança: um tratamento simples e acessível a todos. Este estudo, extrapolado para os humanos e em investigações seguintes, não se comprovou. Contudo, parece consensual que esta planta e as suas raízes possuem efeitos anti-inflamatórios. Assim sendo, não havendo indicação para a utilizar como suplemento alimentar, não custa introduzi-la mais na nossa alimentação. Surtindo algum efeito, ou não, é deliciosa! E bela e amarela! 

 

Voltando aos biscoitos...! Aqui vai a receita:

 

Biscoitos de pistachio e toranja

 

Ingredientes:

- 130g de manteiga

- 2 ovos

- 50g de pistachios picados

- 120g de açúcar amarelo

- 300g de farinha

- sumo e raspa de 1 toranja

- 3 colheres de sopa de geleia de agave

 

Pré-aquecer o forno a 180ºC.

Numa taça grande, juntar a manteiga amolecida, os ovos e o açúcar e mexer bem. Adicionar a raspa e o sumo de 1 toranja e envolver com cuidado. Acrescentar, aos poucos, a farinha e bater até obter um preparado cremoso e homogéneo. Adicionar, por fim, os pistachios picados e as colheres de geleia de agave. Envolver.

Forrar o tabuleiro do forno com papel vegetal ou película anti-aderente. Distribuir, no mesmo, bolinhas de massa com cerca de 1 cm de distância entre elas. Levar ao forno durante cerca de 20-25 minutos ou até começarem a ficar douradas. Retirar e deixar arrefecer antes de servir.

 

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Espero que gostem!:)

Bons lanches!

 

 

 

Curcumin, a major constituent of turmeric, corrects cystic fibrosis defects - Egan, Marie E. et alScience (New York, N.Y.); Apr 2004

Some like it hot: curcumin and CFTR - Davis, Pamela B. et al; Trends in Molecular Medicine; Oct 2004

Correction of CF deffect by curcumin: hypes and disappointments; Mall, Marcus et al; BioEssays: news and reviews in molecular, cellular and developmental biology;  Jan 2005

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15 de Janeiro, 2018

A viagem - uma história #5

JR

Setembro de 2012

 

V

 

É noite e está uma ventania em Idanha-a-Nova. A zona antiga da cidade, onde fica a minha pousada, está completamente vazia. Cá fora,  de pêlo esvoaçante, está um gato preto a comer um bocado de fiambre que o senhor da recepção lhe deu. O vento quente uiva, abana os ramos das árvores. Diria que podia começar a chover a qualquer momento, desabando sobre nós um temporal medonho.

 

Conheci Castelo de Vide pela manhã. É uma vila muito engraçada, com ruas que sobem e descem, íngremes, levando-nos até ao castelo e ao forte de São Roque. Por volta do meio dia, já rolava os pneus pela estrada fora. Estamos, definitivamente, numa paisagem completamente diferente das anteriores! A serra envolve-nos, as árvores crescem nos céus, criando sombras agradáveis na estrada. De sul para norte, os animais que vamos vendo pelos caminhos vão, também, mudando. Primeiro, pastam vacas e touros nos longos prados do baixo alentejo. Mais a norte, começamos a ver cavalos imponentes. Subindo mais ainda, deparamo-nos com ovelhas preguiçosas.

Entretanto, Tejo à vista! Estava um calor insuportável! Cheguei a Castelo Branco já cansada, a precisar urgentemente de um café e, talvez, de uma sesta. Mas, lá me contive e, debaixo daqueles raios de sol em brasa, andei pela cidade. Já não estava habituada a tanta confusão! Todos os caminhos que fui fazendo, até agora, levaram-me a cidades calmas, terriolas e vilas praticamente desabitadas, mantendo-se firme a população idosa, com senhores dormitando nos bancos de jardim. Castelo Branco tem vida! Tem cafés apinhados de gente! Talvez, por isso mesmo, decidi continuar viagem. Procuro recato e paz.

Depois de uma rápida incursão a uma barragem perdida no meio do caminho, uma tal barragem Marechal Carmona, e um passeio por Idanha-a-Velha, achei que o melhor plano para hoje era jantar umas pêras que tinha na mala do carro e acabar o dia, na pousada escolhida em Idanha-a-Nova, a ver um filme. E foi assim que, pela primeira vez, senti saudades do hospital. O filme, Lourenzo´s oil, foi-me recomendado pelo meu pai. Trata de uma história verídica, de um menino com Adrenoleucodistrofia. Vi o filme todo, concentrada nos pequenos progressos da medicina. E foi, no final do filme, que vim para a rua e me apercebi do vento furioso. Sentei-me a pensar, finalmente, naquilo que quero fazer da minha vida. Os meses vão passando e ainda tenho uma escolha importante por fazer. Deixo-me embalar pelo vento. E penso.

 

 

Ser médica, pela primeira vez, não é fácil. Entramos no hospital de cabeça erguida e de canudo na mão. Há, primeiro, que nos habituarmos ao espaço, às rotinas dos serviços, aos nossos chefes. Trazemos na memória algumas das milhares de páginas que lemos ao longo dos seis anos de curso. Seis anos conglomerados, por fim, nos cinco intermináveis capítulos que nos são depositados, pesadamente, nos braços. Seis anos resumidos num, que determina o nosso futuro. Olhando para trás, parece impossível termos aguentado aqueles dias sem fim, naquela rotina rígida de bibliotecas e de café atrás de café, de sestas rápidas em cima dos livros, de almoços cronometrados ao segundo. Dias em que os nossos pequenos prazeres se resumiam a conversas ocasionais e às horas de sono que nos permitíamos por noite. Aquele ano pareceu-me um dia gigante. Tudo para um exame que acaba num piscar de olhos.

 

E, então, sou médica. E, de doente à frente, a sensação que tenho é que preciso tirar um outro curso de Medicina. Olho para o doente e recordo a sequência de passos da história clínica. Faço as perguntas, anoto tudo. "Lembra-te do que é importante!", "E agora? Qual o próximo passo? Claro, o exame físico! O precioso exame físico!". Procuramos e remexemos na memória à procura de todos os diagnósticos diferenciais. "Não te esqueças de nada...tens tudo na cabeça. O que não tiveres podes sempre procurar nos livros...". Mas é uma sensação gratificante, ganhar prática a cada dia que passa. Aprendermos, agora sim, realmente aprendermos, o que é ser médico, o que é ser doente. Não é o curso que nos faz médicos. Só somos médicos ao sê-lo. Vamos sendo, aos poucos. 

 

Milhares de pessoas passam por nós nas urgências, mas há sempre algumas que nos marcam. Lembro-me de uma senhora espanhola, com cerca de 60 anos de idade, pacificamente deitada na maca, na sala da pequena cirurgia, com um golpe fundo na testa que vertia sangue. Tinha acabado de entrar, depois de várias horas à espera. Cá fora, ouviam-se choros e queixas de doentes que esperavam. Maridos batiam à porta, furiosos, a perguntar pelas suas esposas, reivindicando braços inexistentes e trabalho redobrado. "Peço desculpa, tem de ter paciência, há muita gente e temos de ver primeiro quem está pior" - explico, sem saber para onde me virar, enquanto outro senhor me agarra no braço - "menina doutora, isto é inadmissível!". Fecho a porta e respiro fundo. Resgato, mais uma vez, da memória todos os passos da história clínica, enquanto me aproximo da senhora espanhola. Tinha caído de uma escada, nunca tal lhe tinha acontecido antes. Deve ter escorregado. Sorri para mim enquanto a suturo, sem nunca se queixar. Diz-me que é espanhola, mas que já vive em Portugal há muitos anos, depois de se ter casado com um português. "E gosto de cá estar". Continuamos a conversar, limpo a sutura, arrumo o campo de trabalho e faço todas as recomendações devidas. Suspiro e preparo-me para voltar ao corredor atulhado de gente quando a senhora me chama - "Obrigada, doutora" - Fiquei parada uns segundos. É tão raro ouvirmos tais palavras! - "Ora essa, que ideia! Não fiz mais que o meu trabalho..." - digo, ainda atrapalhada. "Não, doutora. Aqui, toda a gente se queixa, toda a gente tem dores. São poucos os que reconhecem o vosso trabalho quando, todos os dias, lidam com a miséria humana. E a menina é jovem, tem de ser forte". Sorrio, aperto-lhe a mão. "Obrigada." - digo eu, desta vez. Continuo o meu turno, motivada. São estas as nossas baterias. Meras palavras.

 

 

To be continued...

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13 de Janeiro, 2018

Shopping Kit - Como ir às compras de forma mais ecológica

JR

Que os sacos de plástico são uma praga, já toda a gente sabe. Na verdade, desde que passaram a ser pagos, a maioria das pessoas já reutiliza sacos de compras. Mas, infelizmente, apesar de ser um grande passo, não é suficiente. Com um pouco de organização (numa fase inicial), conseguimos produzir muito menos lixo - principalmente plástico - na nossa ida ao supermercado. E sim, dá para aplicarmos vários destes princípios nas grandes superfícies também.

 

Apresento-vos o meu shopping kit!

 

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Bastante prático. Tenho sempre tudo à mão e, na hora de ir às compras, é só colocar tudo dentro do meu tote bag e sair de casa. Também dá jeito ter um kit destes na mala do carro para qualquer eventualidade.

 

Tote bag - é o saco de pano (aqui representado pelo que me foi oferecido no evento Zero Waste pela Maria Granel). É suficiente para as compras mais pequenas. Mas, quando vou fazer as compras da semana, levo todo o kit dentro deste saco (junto do porta-moedas, telemóvel e chaves de casa).

 

 

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Saco grande - Inicialmente, vai bem dobradinho. Depois, é onde coloco todas as compras no caminho de volta a casa.

 

 

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Frascos de vidro - vão comigo sempre que vou a uma loja a granel que permita levar os nossos próprios frascos. É só tirar a tara, encher com a quantidade pretendida e pagar! Ao chegar a casa, basta pôr no armário, sem mais acondicionamentos. Infelizmente, nem todas as lojas permitem levar frascos próprios.

 

 

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Sacos de pano para sementes, grãos, frutas e vegetais - tenho de dois tamanhos. Uso estes saquinhos para vários fins. É onde coloco frutas, vegetais e cogumelos em substituição dos sacos de plástico (e também de papel) disponíveis para esse efeito nos supermercados. Nas lojas a granel que não nos permitem usar os nossos próprios frascos de vidro, utilizo-os para colocar grãos, cereais, granola, etc etc.

 

Saco do pão - Serve, exactamente, para comprar pão. Peço para o colocarem directamente no meu saco.

 

 

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Recipientes para queijo e carnes frias - uso para colocar o queijo, fiambre, chourição que compro na área da charcutaria das grandes superfícies. Peço para pesarem e colocarem directamente nas minhas caixinhas. Levo o talão na mão e entrego ao funcionário da caixa no acto do pagamento.

 

 

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Caixas de ovos - reutilizo na compra de ovos a granel.

 

 

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Uma mudança tão simples mas que diminuiu, d-r-a-s-t-i-c-a-m-e-n-t-e, a quantidade de lixo que produzo todas as semanas. Foi fácil de implementar, toda a gente notou a diferença. As compras são muito mais fáceis de arrumar ao chegar a casa. Os produtos estão mais visíveis e, o facto de comprar apenas a quantidade que quero, gera menos desperdício alimentar. 

Não querem tentar? Como fazem as vossas compras de forma mais ecológica? Que ideias brilhantes andam a surgir por esses lados? Partilhem comigo!

 

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09 de Janeiro, 2018

5 livros para ler em 2018

JR

Vejo os livros como vidas infinitas. Vidas alternativas. Fugas estratégicas.

Gosto de ter livros. De os ter, fisicamente. De os sentir, folhear, perceber o cheiro. Venham de onde vierem...! Da livraria, da casa do amigo, da estante da biblioteca, de lojas online...perdidos num banco de jardim. Gosto da expectativa antes da história e da grandiosidade do seu fim. De fechar o livro e acariciar-lhe a capa enquanto vasculho os significados ocultos (ou pessoais) das grandes prosas. Ou poesias...que me consomem, estranhamente, mais tempo, com todos os seus meandros.

 

Tenho uma vida inteira de livros por ler. Esta é, apenas, um pequena selecção de livros que quero ler em 2018.

 

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- Biografia Involuntária dos Amantes, de João Tordo. Um poeta mexicano, um professor universitário divorciado e um manuscrito de uma ex-mulher morta, após um atropelamento de um javali. Tem tudo para dar certo.

 

Os Loucos da Rua Mazur, de João Pinto Coelho. Um livreiro cego e um escritor doente que regressam ao seu passado. Uma cidade na Polónia da II Guerra Mundial, de "cristão e judeus, de sãos e de loucos, ocupada por soviéticos e alemães, onde um dia a barbárie correu à solta pelas ruas e nada voltou a ser como era". Promete.

 

O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo, de Haruki Murakami. "Dois narradores com a mesma idade. Dois mundos paralelos. Uma poderosa alegoria sobre os tempos modernos". Basta ser Murakami, um dos meus escritores favoritos e uma mente brilhante.

 

O Gene Inteligente, de Dr. Sharon Moalem. Não é um romance, mas sim um livro de divulgação científica. De que maneira o nosso dia-a-dia pode mudar o nosso ADN e, consequentemente, moldar a nossa descendência? Fiquei com vontade de saber...

 

- O Samurai Negro, de João Paulo Oliveira e Costa. Uma história passada no Japão, mas que "liga Roma, Lisboa, Pernambuco, o Congo, Goa e Cochim, o Sul da China e todo o Japão". Parece-me que vou gostar.

 

 

Já alguém leu algum destes livros por aí? Feedback positivo? 

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07 de Janeiro, 2018

O primeiro encontro Zero Waste de Lisboa

JR

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Este encontro já se vinha a esboçar há algum tempo.

 

Ao longo do último ano, formou-se, quase acidentalmente, um grupo de bloggers instagrammers dedicadas à sustentabilidade e lixo zero. Um grupo que, inicialmente, se uniu na tentativa de despertar novas consciências para o mundo do desperdício zero e que, aos poucos, foi crescendo, acabando por se tornar num grupo de apoio e troca de ideias entre amigas. Mas, na realidade, apenas nos conhecíamos no mundo virtual. A vontade de nos encontrarmos, pessoalmente, foi surgindo com naturalidade. O ecrã do computador não estava a ser suficiente para a constante troca de ideias e emoções.

 

Esse encontro aconteceu hoje!

A querida equipa da loja Maria Granel ofereceu-se para organizar esse encontro, com o apoio do grupo Lixo Zero Portugal. Um encontro que transbordou em ideias e carinho, pensado ao pormenor. Podemos, finalmente, conhecer-nos pessoalmente e conversar. Foram-nos apresentados produtos e marcas ecológicas e sustentáveis, bem como pessoas inspiradoras com projectos inovadores. 

 

Começamos a manhã com um brunch fantástico elaborado pelas mãos da Maria de Oliveira Dias, fundadora do The Love Food. Ingredientes 100% de origem biológica, todos de origem vegetal, sem açúcar e sem glúten. Foram servidos na cerâmica linda da Margarida Almeida, da Círculo Ceramics sendo, portanto, um produto português.

 

De seguida, tivemos o privilégio de assistir ao workshop da Cátia Curica, da loja Organii, que nos falou um pouco de preparação de cosméticos naturais com ingredientes caseiros: máscaras faciais e corporais, pasta de dentes e champô. Vou testar estas receitas e depois partilho a experiência!

 

Pouco depois conhecemos a Ana Jervis que nos apresentou a sua iogurteira Yogurtnest. Uma iogurteira que não utiliza qualquer tipo de energia para funcionar: a manutenção da temperatura ideal para a fermentação dos iogurtes é conseguida através do recurso a isolamento de cortiça. Uma iogurteira que, para além de iogurtes, permite a elaboração de pratos em slow cooking, funciona como um ninho para levedar massas e serve como mala térmica, permitindo transportar refeições já cozinhadas que se manterão quentes por bastante tempo. Adorei o conceito! 

 

Por fim, ouvimos a Sabrina Sabatini, representante da Juventude Lixo Zero Brasil (Zero Waste Youth International) que nos explicou a missão e visão desta organização. Falou no sonho de criar pontes entre as várias comunidades Zero Waste, de forma a poderem colaborar e promover, em conjunto, eventos e projectos que contribuam para um mundo mais feliz e sustentável. A Sabrina, que está em Portugal por tempo limitado, vai estar amanhã, dia 8 de Janeiro, no Mercado de Campo de Ourique a partir das 18h! Ela pretende conhecer jovens interessados no tema da Ecologia, Meio Ambiente e Zero Desperdício. Apareçam! Ela é uma simpatia!

 

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Saimos felizes e de coração cheio! 

Tenho a certeza de que, de encontros como estes, com pessoas activas e motivadas, sairão ideias novas, projectos novos e colaborações interessantes. Em prol do nosso planeta e do meio ambiente. Já estou ansiosa pelo próximo...

 

 

Conheçam também estas pessoas e projectos fantásticos:

- Ana Milhazes Martins do blog Ana, go slowly.

- Joana Gandara Reis do blog Eerie Plains.

- Joana Tadeu co-fundadora de A montra - The window.

- Catarina Matos, fundadora do blog e loja online Mind The Trash.

- Antónia Prata e o seu Instagram focado em minimalismo e desperdício zero She is Awake.

- Helena Seca do blog Day by day for zero waste.

- Inês Espada Nobre e o seu perfil de Instagram inspirador.

- Ana e Carla do blog De-vagar.

 

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05 de Janeiro, 2018

A viagem - uma história #4

JR

Setembro de 2012

 

IV

 

Elvas ficou para trás. Sigo em direcção a Portalegre e à Serra de São Mamede por estradas nacionais. Temos de admitir, a grande maioria das estradas do nosso país estão em bom estado, permitindo que o carro deslize sem grandes solavancos. Decidi cortar à direita quando vi uma placa que dizia: Cidade romana de Ammaia. Esta é uma das principais vantagens de fazer uma viagem sozinha: a imprevisibilidade do impulso, a satisfação completa de apetites. 

Para visitar Ammaia, temos de pagar a modesta quantida de dois euros. Temos acesso a um museu e às escavações, que ainda estão em curso. De um modo geral, não sou uma pessoa de museus. Para visitar um museu, e para o aproveitar realmente, é preciso tempo. A mim, custa-me perder tempo dentro de quatro paredes. Mas hoje, lá fui eu. E foi uma agradável surpresa! O museu em si é pequeno e sucinto. O resto é ao ar livre, onde podemos pisar terra seca e ver gafanhotos saltar à nossa frente, a cada passo que damos. Dei por mim a imaginar a cidade na sua versão original,  com gigantescas colunas erguidas em amplas praças. Como é que se perdeu a beleza das antigas cidades romanas ao longo dos séculos? Como deixamos tal acontecer?

 

Marvão olha-nos lá do topo. É um lugar extremamente bonito, com vistas panorâmicas sobre a serra, simplesmente, deslumbrantes. Hoje, felizmente, estava praticamente vazia, com poucos turistas. Sentei-me numa esplanada e pedi a sopa do dia. A verdade é que me tenho tratado bem durante esta viagem. Mas, olhando para o menu, e fazendo contas ao dinheiro e à fome, achei que não era altura para experimentar mais um prato típico alentejano. Estamos em crise e a gasolina está cara. Para além disso, o meu organismo já se tem vindo a queixar da quantidade de calorias que tenho ingerido. Sim, a sopa era a escolha mais acertada.

 

E assim desci, curva apertada após curva apertada, até Castelo de Vide. Cheguei cedo, por volta das três da tarde. Carreguei a grande mochila, companheira de viagens, pelas escadas e cheguei ao meu modesto quarto no primeiro andar. O plano inicial era o de tomar um banho e aproveitar ainda o resto da tarde para dar uma volta e, talvez, jantar fora. Mas hoje, queria tudo menos seguir planos. Mergulhei na piscina fresca e dormitei ao sol, que nem lagarto. Sentei-me, pouco depois, na varanda e acabei o meu livro pousando-o, ocasionalmente, para ouvir o chilrear imenso dos pássaros no final da tarde. Senti uma paz imensa. E uma solidão vincada. Com o passar do tempo, a solidão a que me obriguei faz-se notar, cada vez mais nítida. Não me cruzei com mais nenhum viajante solitário. Nos hotéis, olham para mim com alguma estranheza e curiosidade, que já pouco me incomoda. No início, sentia algum constrangimento. Agora, olho-os nos olhos e digo "sim, é uma mesa só para mim, por favor". Uma mesa de quatro com apenas uma refeição servida. E eu como, calmamente.

 

Regresso à minha varanda. Hoje, pouco mais vi de Castelo de Vide do que as palmeiras do hotel. Dou por mim a concordar com o livro que acabei de ler. Uma pessoa permanentemente feliz deixa de se aperceber da felicidade. Tal como as viagens: são mágicas pela sua finitude. A plenitude da felicidade é percebida após a plenitude da tristeza. Sou a favor de emoções fortes, de sentimentos arrebatadores. Nos últimos meses, tenho vivido e tenho sentido, mas falta-me profundidade. Falta loucura! Onde estão os sentimentos gritantes? Onde está o ruído e a revolta? Onde está a paixão? Onde está o abraço? Aquele abraço que fica, que não foge e que não vai a lado nenhum?

 

 

Tenho saudades tuas. Já as tive antes, é verdade. Mas hoje, insisto, tenho saudades tuas.

 

Depois de tudo, vivemos juntos. Não como alguma vez possa ter imaginado ou desejado. Mas a convivência do dia-a-dia fez crescer, entre nós, uma amizade que achei impossível. Sinto-me bem ao teu lado. Sinto-me, sobretudo, eu. Conheces-me de forma genuída, real, sem máscaras, de cara lavada e óculos, antes de me deitar. Conheço a tua voz rouca da manhã, de olhos mal abertos, quando te sentas para fazer as tuas torradas. Conheço os teus livros desarrumados na sala, o dicionário estragado, o lápis minúsculo e roído na ponta. Sei que lês na varanda e que paras, de tempos a tempos, e ficas absorto nas tuas meditações, com os teus olhos de pestanas grandes perdidos no horizonte curto do prédio da frente. Rimo-nos, rimo-nos muito. Orgulhamo-nos das nossas plantas que vão crescendo, ficamos tristes quando murcham. Somos criativos e artistas. Somos cozinheiros cada vez mais talentosos. Partilhamos os nossos doentes e peripécias da vida.

 

Mas, deixa-me hoje, só hoje, ter saudades tuas. Saudades do nervoso miudinho, da mão a tremer, da antecipação do beijo, que já só recordo em esboço. Da vontade de te conhecer mais e mais, de me dar a conhecer. Da vontade do teu abraço, apenas do teu abraço. Do presente que nunca existiu, que nunca deixaste existir. Da dúvida e da espera interminável. De que me vejas, não apenas que me olhes. Nunca me viste, realmente...corrijo, nunca me quiseste ver. E estive sempre aqui. Estou aqui.

 

 

Suspiro. Olho as memórias espalhadas na mesa. Não sei se as guardo ou se as deito fora. Estou longe e, deliberadamente, só. Na varanda, os pássaros calaram-se e a noite está quente.

Deito-as fora.

 

 

 

to be continued...

 

 

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03 de Janeiro, 2018

Um brownie diferente

JR

Ainda em Dezembro, empurrada pelo calendário do Advento, preparei um brunch natalício para a família. Após algumas pesquisas, acabei por decidir o menu:

hummus tradicional e pão

- ananás dos Açores

- bolachas de alfazema e de matcha

- iogurte grego + granola

brownie de beterraba

chai (chá preto com leite e especiarias de origem indiana)

 

 

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Queria uma refeição leve mas, ao mesmo tempo, nutritiva. Utilizei algumas receitas já minhas conhecidas mas também quis fazer algo novo. Lá me deparei com esta receita de brownie de beterraba que logo me prendeu o olhar. Para além de adorar cozinhar com beterraba, adoro o sabor e, principalmente, a cor linda que dá aos pratos. Esta receita está divinal! As poucas coisas que alterei em relação à receita original foi, meramente, por não ter os ingredientes certos em casa.

 

 

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Brownie de beterraba:

 

Ingredientes:

 

- puré de duas beterrabas médias cozidas

- 2 colheres de sopa de óleo de côco

- 50g de chocolate de preto

- 3 ovos

- 1/2 chávena de açúcar

- 1 colher de chá de essência de baunilha

- 1/4 chávena de cacau em pó

- 1/2 chávena de amêndoa moída

 

 

Pré-aquecer o forno a 180ºC.

Forrar uma travessa pequena com papel vegetal.

Numa panela pequena, em lume brando, derreter o óleo de côco e o chocolate, mexendo sempre. Retirar do calor e deixar arrefecer.

Numa taça grande bater os ovos, o açúcar e a baunilha até obter um preparado homogéneo. Posteriormente, juntar-lhe o puré de beterraba e o chocolate derretido e arrefecido. Misturar bem.

Por fim, adicionar o cacau em pó e a amêndoa moída e incorporar delicadamente.

Verter para a travessa forrada e levar ao forno durante 20-25 minutos.

Decorar com pétalas de rosa secas.

 

Lindo e D-E-L-I-C-I-O-S-O.

 

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Algum expert em brunch por aí?

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