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The Middle Way

The Middle Way

29 de Outubro, 2017

Relatos de uma meia maratona

JR

Não é novidade que fui correr a meia-maratona de Lisboa pela equipa da Associação Nacional de Fibrose Quística (ANFQ). Como referi num post anterior, não costumo (costumava?) correr regularmente, apenas o fazia de tempos a tempos, quando o acumular de inércias somadas me pesava na consciência.

 

Naquela manhã, valeu-me a companhia da minha irmã mais velha que, também sem experiência prévia, prontamente se juntou a mim nesta empreitada.

 

Acordamos cedo, por volta das 6 da manhã, preparadas para tomar o nosso pequeno-almoço nutricionalmente planeado. Estavamos entusiasmadas e bastante confiantes! Os últimos treinos tinham corrido bem, estavamos as duas mais resistentes.

Saímos, ainda ao amanhecer, para apanhar o metro até ao Parque das Nações, ponto de encontro da nossa equipa. Já nessa altura se antevia o calor do dia. Às 7 e pouco da manhã, estava uma brisa morna, o ar um pouco abafado. Ao entrarmos na estação de metro, fomos encontrando cada vez mais gente de dorsal numerado. Os nossos camaradas! À medida que nos aproximavamos do local da partida, um nervoso miudinho ia-se instalando. 

O Parque das Nações estava repleto de corredores de inúmeras nacionalidades! Sorridentes, afáveis, determinados. Pouco tempo depois, apanhamos o autocarro que nos levaria até à ponte Vasco da Gama. Fomos rodeados pela Team Diabetes, do Canadá - todos rigorosamente preparados!

 

O ambiente na ponte é fenomenal! A paisagem indescritível. Ao som de música alta, lá nos fomos aglomerando, prontos para a partida. Eu, cada vez mais nervosa, ansiosa por correr, sem saber bem o que esperar. Lá ao longe, conseguíamos ver metade do nosso trajecto. Parecia impossível alcançá-lo...!

 

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Não havendo por onde fugir, às 10h30 lá partimos!

 

Toda a gente em festa, cada um a encontrar o seu ritmo. Eu e a minha irmã separamo-nos logo ao início, cada uma concentrada na sua passada. Tento desligar-me das restantes pessoas, controlar a respiração, seguir o ritmo dos treinos, olhando para o relógio. Sem pressas, sem exigências desmedidas. O sol alto sem dar tréguas, reflectindo no asfalto da ponte. Subida ligeira. Ainda muita gente a conversar animada ao meu lado, era difícil concentrar-me. Mas, lá saímos da ponte, descemos e começamos a aproximar-nos do Parque das Nações. Estava cansada, mas um cansaço ainda suportável e dentro do que estava à espera. Pouco depois dos 6 Km o calor começa a ser demasiado real. Parece que todo o meu corpo o absorve.

 

Em termos psicológicos, a prova em si é mais exigente: está sempre alguém a ultrapassar-nos, estamos constantemente a sentir-nos a ficar para trás. Mal nos apercebemos que, nós também, estamos a ultrapassar alguém! Na verdade, começamos a questionar aquilo a que nos propusemos.

 

Encontro, finalmente, água. Bebo o que consigo, despejo o resto por cima de mim e continuo. 

Ao longo do percurso, vários palcos com concertos de música Rock vão reavivando as passadas. Perto dos 10 Km, encontro a minha irmã e seguimos parte do caminho juntas. Por volta desta altura, sinto-me a derreter. Os quilómetros parecem esticar. Parece-me impossível ainda ter meio caminho pela frente. Entre os 12-13 Km estamos em plena Avenida Infante D.Henrique. Não há uma única sombra. Estou bem atrás do tempo de treino. Sigo uns metros a andar. Tomo o gel energético. Anseio, desesperadamente, por mais água. À minha volta, já quase ninguém conversa. Silêncio, para além das passadas dos restantes. Ganho coragem, retomo algumas forças e volto a correr.

 

Entre os 15-16Km, aproximamo-nos da Praça do Comércio. Tenho, permanentemente, sede. Não sinto os pés, os músculos das pernas ardem. Nesta altura sei que já estou a correr há cerca de 2h30m, muito mais do que esperava. Tenho 30 minutos para chegar à meta e ainda tenho a Avenida da Liberdade para subir. Não suporto o sol. Tenho a certeza de que não vou conseguir. Não paro. Corro.

 

Em plena baixa lisboeta temos, várias vezes, que nos ir desviando de pessoas que andam pela estrada, não sei se corredores ou meros turistas. Volto a andar, passo rápido. Penso em desistir, sentar-me no passeio e ligar a alguém para me vir buscar. Continuo.

 

Ao passar o Marquês de Pombal inicio o trajecto final, agora em descida. Tenho mais 2-3 Km pela frente. Vejo o relógio que marca 2h48m. Ganho coragem e corro, corro, corro. Num pequeno golpe de esperança, acho que ainda consigo chegar à meta antes das 3h e levar, orgulhosa, a medalha à minha bebé. Pouco me lembro desta etapa. Sei, apenas, que cheguei à meta em sofrimento visível, passando-a após 2h56m de corrida. 

Consegui.

 

Procuro a primeira sombra disponível e sento-me a comer, sôfrega, um calipo de laranja que nos entregaram na meta. Peço ajuda e espero pelo meu marido. Encontramos a minha irmã, também ela exausta mas feliz por ter acabado! Nenhuma de nós se consegue levantar durante alguns minutos. 

 

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Após muito esforço, lá tentamos caminhar até ao primeiro taxi disponível. Entramos e adormecemos instantaneamente. 

 

Ao chegar a casa, entrego a medalha à minha filha. Como uma banana, tomo um duche e vou dormir pouco depois. Estou, completamente, esgotada.

Só mais tarde, ao acordar um pouco melhor, consigo apreciar a surpresa incrível que o meu marido tinha à minha espera. Sempre acreditou em mim. Ele é único.

 

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Naquele dia disse, a alto e bom som, que nunca mais ia repetir tal proeza. Tinha sido uma experiência incrível, tinha superado os meus limites e alcançado o meu objectivo: levar a t-shirt da ANFQ ao longo de 21,1km. Mas nunca mais o iria repetir.

 

Duas semanas depois, começo a sentir uma inquietação qualquer. Quase como que um chamamento, uma vontade. 

Se consegui correr esta meia-maratona em 2h56m, porque não tentar 2h30m no próximo ano?

 

Vamos, Nani?

 

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26 de Outubro, 2017

Bolachas com sabor a Japão

JR

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Tenho um fascínio por tudo que é japonês. Uma admiração que vai da literatura à culinária (sou fã irremediável de Murakami...). Gosto tanto que, a nossa lua-de-mel, foi passada no Japão. É incrível como em Tóquio, uma cidade com uma enormíssima densidade populacional, o caos não se sente e não se instala nas ruas - tirando, claro está, o metro em hora de ponta - mas, à superfície, tudo é calmo, pacífico, ordenado. Existe um respeito palpável pelos outros. Uma fusão harmoniosa entre o tradicional e o moderno. 

 

Quanto à gastronomia...sou um pouco viciada em sushi. Adoro gelado de chá verde e sésamo preto. Matcha, matcha, matcha.

O que é o matcha? 

Bom, é uma mistura de chá verde em pó ou moída. Chá de elevada qualidade! 

Antes da colheita das folhas de chá, as plantas são cobertas para que não sofram uma incidência solar directa. Tal facto vai levar a um aumento dos seu níveis de clorofila (as folhas são de um verde mais escuro e intenso) e a uma maior produção de aminoácidos (proteína). As folhas de maior qualidade são, posteriormente, colhidas à mão.

O acto de beber chá, no Japão, é tão sagrado que existem, inclusivamente, escolas de cerimónia do chá!

O sabor é característico: forte, profundo, intenso com um final amargo na língua.

É, também, considerado um dos maiores antioxidantes existentes no mundo!

 

 

Matcha Cookies com sementes de sésamo (as minhas favoritas do momento):

 

Ingredientes:

- 120g de manteiga derretida

- 200g de açúcar moreno

- 150g de farinha de trigo fina

- 2 ovos

- 1 ou 2 colheres de sopa de matcha (dependendo da intensidade que pretendem)

- 1 colher de chá de fermento

- pitada de sal

- sementes de sésamo brancas 

 

Pré-aqueçam o forno a 180ºC.

Numa taça grande, batam a manteiga e o açúcar até obterem um creme arejado. Um a um, incorporem suavemente os ovos. Numa taça à parte, misturem todos os ingredientes secos até ficarem distribuídos de forma homogénea. Depois, juntem os ingredientes secos à massa preparada anteriormente, pouco a pouco, misturando bem. No final, devem obter uma massa de uma cor verde forte!

Untem as mãos com um pouco de manteiga e moldem a massa em pequenas bolinhas, do tamanho de bolas de ping pong. Numa folha de papel vegetal ou numa película anti-aderente para bolos, coloquem as bolinhas verdes (espaçadas, para que possam crescer) e polvilhem-nas com as sementes de sésamo.

Levem ao forno durante 10-15 minutos ou até as suas bases começaram a ficar levemente douradas. Retirem e deixem arrefecer para que o exterior se torne crocante.

Enjoy! 

 

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Arigato! 

 

 

 

 

 

 

 

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24 de Outubro, 2017

O meu pai

JR

Os fins-de-semana começavam lentos, nessa altura. Sorrateiramente, eu e a minha irmã mais velha, acabavamos por invadir a cama dos meus pais. Primeiro, saía a minha mãe e, depois o meu pai, vencidos pelo nosso arrastão. Ligavamos a televisão, um quadrado pequenino escondido dentro do roupeiro das toalhas, e ficavamos na preguiça a seguir os desenhos animados. O pequeno-almoço chegava-nos, às vezes, à cama. Comiamos, sem pressas. Mais tarde, de televisão já desligada e ainda de portadas fechadas, eu e a minha irmã por lá ficavamos a brincar.

Subitamente, a luz que se apaga! Um silêncio perturbador apenas cortado pelos nossos gritinhos nervosos. Gritos expectantes de quem já conhece a brincadeira de cor e sabe o seu desfecho. Calamo-nos e abraçamo-nos com medo divertido. Um crepitar ao fundo do quarto, uma espécie de brisa ao fundo da cama. Uma sombra aqui ao lado, será?

-"MÃÃÃEEE, O PAI VAI FAZER...".

-...UM ATAQUE DE CÓCEGAS! - e lá salta o meu pai de surpresa!

Rimos, rimos, rimos.

A minha mãe entra também, para nos salvar daquele ataque-brincadeira. 

 

 

 

O meu pai foi um pai-brincadeiras. Sempre atento às suas meninas. Protegendo-nos, mas dando-nos asas. Cultivando o nosso gosto por livros e histórias. Um fiel impulsionador da minha escrita. Comedidamente exigente, tornou-nos fortes e lutadoras. Visionárias e sem medo do mundo. Com vontade de ir pelo mundo.

 

Pai teimoso. Humilde. Impulsivo. Humano. Estudante eterno e coleccionador de livros. O melhor conselheiro de desgostos amorosos que, a pedido da mãe, lá subia os degraus até aos nossos quartos-torre e nos consolava as lágrimas fazendo-nos ver, sempre, que tinhamos valor. 

 

Este meu pai, agora avô-brincadeiras, faz hoje anos! 

Estas palavras-homenagem são tuas! Parabéns, PAI! 

 

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- AO ATAQUE MEUS PIRATAS!!

 

 

 

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24 de Outubro, 2017

Mini-look of the day #2 - a cortiça portuguesa

JR

E que tal substituirmos artigos de pele por cortiça portuguesa? Para além de ser um produto nacional, a cortiça tem muitas das vantagens do couro: impermeabilidade, respirabilidade, resistência, baixa densidade e condutividade térmica. Mas, o seu fabrico é muito mais sustentável e amigo do ambiente!

 

E fica tudo tão lindo!

 

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Estes sapatinhos da bebé são amorosos e muito confortáveis. Estes foram comprados na Rutz. Vale a pena dar uma espreitadela.

 

 

 

Este post NÃO foi patrocinado.

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23 de Outubro, 2017

Resgatei páginas do baú #2 - viagem à Índia

JR

De mochila às costas aterrei na Índia cheia de expectativa mas, acima de tudo, com um medo atroz. O verdadeiro desconhecido, ainda por cima caótico, diante dos nossos olhos jovens.

 

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A Índia entranha-se em nós. Espicaça-nos, a cada segundo, todos os sentidos, todos ao mesmo tempo, todos simultaneamente, em sequência, dos pés à cabeça, em turbilhão. Milhares de pessoas, carros, vacas, bicicletas indo e vindo de todas as direcções. As insuportáveis buzinas intermináveis, os braços nús e escuros esticados de todos os lados, tocando-nos no cabelo, no cotovelo, no nariz, (na paciência!) pedindo esmolas. O calor pegajoso. O cheiro a caril, açafrão, gengibre, noz moscada, tudo misturado no mesmo prato, sempre picante.

 

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A Índia é de todas as cores! Vivas, violentas!

 

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E, de repente, a calma do Ganges. O silêncio, a reverência, o tempo parado naquele amanhecer pálido, sem gosto e sem cheiro.

 

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A beleza da ͍ndia está nestes contrastes: no agressivo e no suave, no picante e no insípido, na loucura e na paz.

 

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Texto escrito no âmbito do curso de Escrita Criativa da Academia Escrever Escrever.

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18 de Outubro, 2017

Pequenas ideias para mudar o mundo #4 - o chão

JR

Cada vez me sinto mais convicta das mudanças que tenho feito. Em mim. Em casa. Na família. Tenho certeza que temos de cuidar melhor do nosso planeta, da Natureza, do nosso país. De certa forma, este gap year involuntário tem estado a seguir um rumo interessante e imprevisível. Tenho conhecido pessoas diferentes, invulgares e inspiradoras. Tenho prestado atenção a outras formas de levar a vida. Tenho aprendido sobre temas impensáveis. Tenho-me desafiado.

 

Já há algum tempo que ando a experimentar fazer alguns dos produtos de limpeza cá de casa. Antes de ter sido convencida, tive de procurar alguma coisa que fosse fácil de fazer. Depois, tive de testá-la. Sinto-me, neste momento, confiante para partilhar a receita do lava-tudo que tenho usado para o chão.

O ingrediente principal é o sabão de castela, um sabão totalmente natural à base de azeite. O mais famoso é o sabão da marca Dr.Bronner´s - o que eu uso. Aparentemente é um sabão multifacetado, que pode ser utilizado de diversas formas: para o banho, para a loiça, para o chão, para os dentes, para o cabelo, etc etc etc... Ainda não me aventurei assim tanto, mas estou feliz a usá-lo na loiça e no chão.

 

Vejo várias vantagens em fazer o meu próprio lava-tudo:

- sei exactamente aquilo que leva.

- é completamente eco-friendly.

- diminuí bastante o número de embalagens de plástico - cada embalagem do Dr.Bronners dura e dura e dura e dura...

- posso ir variando o cheirinho (óleo essencial).

- poupo dinheiro.

 

Ora, aqui está ele! (dentro de uma embalagem antiga de Sanytol)!

 

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Os ingredientes são simples!

Cada embalagem leva, aproximadamente, 1L de água.

 

Ingredientes:

- +/- 1L de água

- 1-2 colheres de chá de sabão de castela (comprei na Green Goji) - eu usei o suave, de bebé, por não ter cheiro...mas podem escolher outro

- 5 gotas de óleo essencial tea tree (com aparentes propriedades antibacterianas...)

- 10 gotas de óleo essencial de pinho (ou outro, conforme o cheiro que pretendam)

 

Já está!

Esta receita foi baseada no blog Homesong.

Podem, também, preparar directamente no balde, em menos de 5 minutos.

 

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Tem funcionado! :) Toca a experimentar!

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17 de Outubro, 2017

A medalha dela

JR

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Sem grandes palavras elaboradas. Completamente exausta: pela prova e pela destruição avassaladora da minha cidade e do meu país.

 

 

Minha filha, esta é a tua batalha, mas eu vou estar sempre a correr ao teu lado.

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13 de Outubro, 2017

Porque vou correr a Meia Maratona pela Fibrose Quística?

JR

Estou a pouco mais de 24 horas de correr 21,1 Km pela equipa da Associação Nacional de Fibrose Quística (ANFQ). Gosto de correr, é verdade. Mas não sou corredora assídua, vou correndo aqui e ali. Até decidir embarcar nesta aventura, eram mais as vezes que o sofá ganhava às sapatilhas e correr 5 Km eram uma tortura. Mesmo assim, mal soube que a ANFQ ia formar uma equipa, decidi em segundos. 

Como mãe de uma linda menina com Fibrose Quística, eu mesma me perguntei: porque vou eu fazer isto? Que mensagens posso eu tirar deste ímpeto?

 

É por ela. Quero fazê-lo por ela. Quero que, no futuro, ela o perceba como um exemplo. Quero que ela entenda que conseguimos fazer aquilo a que nos propomos. Que, mais do que o corpo, a mente domina. A força encontra-se, se a procurarmos. Assim que decidimos ir, ganhamos força para nos levantarmos, dia após dia, e correr, correr, correr. Que a persistência compensa, que a inércia e a dor podem ser contornadas. Que, mais do que chegar à meta, é o caminho que nos dá satisfação. O percurso que temos de percorrer para chegar lá. E, não chegando, retirarmos paz de uma tentativa sincera. Percebermos a liberdade que isso nos dá.

 

Por outro lado, preciso de provar a mim própria que tenho força. Não tanto física, mas emocional. Principalmente emocional. Quero que ela saiba que, nos dias em que a doença lhe for mais pesada, eu estou preparada para correr ao lado dela, os-quilómetros-que-forem-necessários. Quando o cansaço dela for grande, quero saber motivá-la, erguê-la. Para isso, tenho de saber motivar-me e erguer-me primeiro. É, precisamente isso, que tenho treinado nestes dois últimos meses.

 

Quero que ela sinta que, a forma como ela encara a vida, a determina. Que as coisas podem ser vistas de diversos ângulos. As coisas são assim mesmo, aleatórias e imprevisíveis. A segurança de um dia pode tornar-se instável no dia seguinte. No minuto seguinte. E há, apenas, que continuar. Ter coragem e calçar as sapatilhas.

 

Quero também, com a corrida, divulgar, alertar, dar a conhecer a doença. Existem várias doenças crónicas invisíveis. A FQ é uma delas. Protejam os vossos espirros, protejam a vossa tosse. Lavem as vossas mãos. Uma gripe banal pode ser, para alguns, sinónimo de internamentos e suporte ventilatório. Protejam o vosso cigarro, principalmente ao pé de crianças. O cigarro deve ser uma escolha individual e não partilhada. Olhem à vossa volta.

 

Quero agradecer a todos os que, com o seu conhecimento e persistência, procuram a cura de doenças aparentemente incuráveis. São, também eles, maratonistas encobertos, desconhecidos, mas que sustentam as suas ideias e as levam para a frente. Até ao fim. Por favor, não desistam.

 

No fundo, quero entender e transmitir que todos nós temos corridas a correr, umas mais curtas, outras mais longas. Umas literais, outras em sentido mais figurativo. A estrada está lá, cabe-nos a nós dar o impulso.

 

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09 de Outubro, 2017

Os sentidos de Van Gogh

JR

 

Há uns anos atrás visitei o museu Van Gogh em Amesterdão. Foi incrível ver os quadros por ele pintados, cara-a-cara. 

 

Este ano, a Cordoaria Nacional tem uma exposição de Van Gogh atípica - Van Gogh, The Experience. Como gostamos de fazer coisas em família, levar a nossa pequena exploradora a ver mundo desde pequenina, decidimos ir. Digo-vos, desde já, que todos adoramos.

 

Assim que chegamos, deparámo-nos com um grupo de adultos, bem postos, a pedir o livro de reclamações e a escrever em todo o lado, queixando-se do preço e da simplicidade da exposição. " Nem um único quadro dele exposto! ". Não me deixei influenciar. Tenho presente, em mim, que na simplicidade está a beleza.

A bebé, indiferente a tais protestos, maravilhou-se, imediatamente, com a parede coberta a papel, disposta logo à entrada. Uma tela pública reunindo a arte de todos. E ela lá pegou nos lápis coloridos e saltitou pela tela improvisada, rabiscando ali e aqui, melhorando o trabalho de outros. Tal e qual uma artista impaciente, em pleno pico criativo, largando lápis pelo chão enquanto escolhia uma nova cor.

 

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Na verdade, a exposição decorre apenas num salão grande. Os quadros são projectados, virtualmente, em todas as paredes e no tecto. Somos rodeados por paredes coloridas, móveis, inconstantes. Acompanhamos, sentados em puffs, a vida do artista, as mutações da sua personalidade, a forma como ele se foi moldando enquanto pessoa e pintor. A música, bem escolhida, adapta-se a cada etapa e quadro, adequa-se à cor dominante que, ora nos alegra, ora nos oprime.

 

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Para a minha pequena salta-montes, ávida por estímulos, foi uma grande aventura. Em toda a parte paredes em metamorfose, cores vibrantes e saltitantes, música envolvente. Adorei vê-la a correr, de parede em parede, em exclamações constantes. Tudo uma novidade. A esticar o seu pescocinho para o tecto, para ver o desenho que mudava. Cor, som e textura.

 

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Tenho a certeza que, para ela, esta experiência foi bem melhor que levá-la ao museu em Amesterdão.

 

A exposição está em exibição apenas até 22 de Outubro. Aproveitem para levar as vossas crianças! (ou a criança que há em vocês...)

Mais informações acerca de preços e horários aqui.

 

Boa experiência!

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