Dias para recordar
Há uns anos fiz Eramus em Praga, na República Checa. Já se passaram tantos anos (e tão rápido!) que já poucas vezes me lembro desse ano intenso. Foi um ano que passou a correr mas que, na verdade, serviu de ponto de viragem. Naquela altura e ainda jovem, na faculdade, estava pouco virada para o mundo e para os seus problemas. Acabava por me dedicar apenas ao meu espaço, às minhas inquietações, aos meus exames e dilemas...
...chegar a Praga, num dia chuvoso às 6 da manhã, deparar-me com aquela língua imperceptível, foi entusiasmante e assustador. Nestas condições, rapidamente formamos amizades sólidas com as pessoas que nos rodeiam. Cheguei sem família e, em poucos dias (horas?), já tinha duas: uma longe e outra perto. Tive a sorte de conviver com pessoas incríveis, que me abriram os olhos, que me fizeram entender que havia mais mundo para além de mim e que, considero, me fizeram melhor.
Hoje acabei por descobrir que se celebra o Dia de Lembrar o Holocausto. A 27 de Janeiro de 1945, o campo de concentração de Auschwitz - Birkenau foi libertado pelas tropas soviéticas. Nesse campo terão sido mortos 6 milhões de judeus, 250.000 pessoas com défices de desenvolvimento motor e cognitivo, 9.000 homossexuais...e porquê? Com que leveza?
Ora, estando a viver em plena Europa Central, tive oportunidade de conhecer vários países vizinhos e, em todos eles, havia referências ao Holocausto e à 2ª Guerra Mundial. Acabei por me interessar bastante pelo tema, ler vários livros, visitar vários locais. Ainda me lembro da sensação de ver a entrada para o campo de concentração de Auschwitz mesmo à minha frente. Quantas vezes a tinha já visto em filmes. Acho que acabamos por achar que todos esses factos fazem apenas parte de uma ficção, uma história inventada, mas...estar ali de pé, sentir o frio gélido do Inverno a entranhar-se nos ossos e, sem mais nem menos, aperceber-me que aconteceu. Outros olharam para aquela entrada, também com frio, com medo, com a vida desfeita na mala...
E, então, acho importante recordar. Lembrarmo-nos que o rumo da vida do mundo também nos diz respeito. Também fazemos parte dele.