Resgatei páginas do baú #2 - viagem à Índia
De mochila às costas aterrei na Índia cheia de expectativa mas, acima de tudo, com um medo atroz. O verdadeiro desconhecido, ainda por cima caótico, diante dos nossos olhos jovens.
A Índia entranha-se em nós. Espicaça-nos, a cada segundo, todos os sentidos, todos ao mesmo tempo, todos simultaneamente, em sequência, dos pés à cabeça, em turbilhão. Milhares de pessoas, carros, vacas, bicicletas indo e vindo de todas as direcções. As insuportáveis buzinas intermináveis, os braços nús e escuros esticados de todos os lados, tocando-nos no cabelo, no cotovelo, no nariz, (na paciência!) pedindo esmolas. O calor pegajoso. O cheiro a caril, açafrão, gengibre, noz moscada, tudo misturado no mesmo prato, sempre picante.
A Índia é de todas as cores! Vivas, violentas!
E, de repente, a calma do Ganges. O silêncio, a reverência, o tempo parado naquele amanhecer pálido, sem gosto e sem cheiro.
A beleza da Índia está nestes contrastes: no agressivo e no suave, no picante e no insípido, na loucura e na paz.
Texto escrito no âmbito do curso de Escrita Criativa da Academia Escrever Escrever.